domingo, 8 de abril de 2012

Para pensarmos um pouco sobre a cultura contemporânea

"(...) a pós-modernidade não seria, apenas, uma crise a mais dentre as que pontuaram a história da modernidade, a última das negações modernas, o mais recente episódio da revolta do modernismo contra si mesmo; seria, antes, o próprio desenlace da epopeia moderna, a conscientização de que o ‘projeto moderno’, como diz Habermas, não estará nunca terminado. O fim da crença no progresso não implica, entretanto, uma queda apocalíptica na irracionalidade. ‘Pensamento frágil’, segundo Vattimo, a pós-modernidade propõe simplesmente uma maneira diferente de pensar as relações entre a tradição e a inovação, a imitação e a originalidade, não privilegiando, em princípio, o segundo termo. Uma longa série de oposições modernas perde seu caráter categórico: novo/antigo, presente/passado, esquerda/ direita, progresso/reação, abstração/figuração, modernismo/realismo, vanguarda/ kitsch. A consciência pós-moderna permite também reinterpretar a tradição moderna, não vendo mais nesta nem o movimento semelhante a um tapete rolante, nem a grande aventura do novo. Uma vez que o messianismo não tem mais lugar, revelam-se todas as contradições, os acasos, as resistências do modernismo a seu avanço. Nós nos curamos da visão teleológica do modernismo, o que não significa que "Tudo vai bem", mas, mais modestamente, que não se pode recusar uma obra sob o pretexto de ser ela ultrapassada ou retrógrada. Se a arte não persegue, de avanço crítico em avanço crítico, algum fim de abstração sublime, como desejavam as narrativas ortodoxas da tradição moderna, então nós gozamos de uma liberdade desconhecida há bem um século. Evidentemente não é fácil utilizá-la."

(Antoine Compagnon, Os cinco paradoxos da modernidade, 2010)

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